É possível usar Literatura e Tecnologia para desenvolver Habilidades Socioemocionais! - Um relato de experiência

Contextualização


Há pouco tempo, os ataques racistas sofridos pelo jogador Vinícius Júnior durante um jogo de futebol viraram notícia em todos os meios de comunicação.  O fato, é claro, não deixou de chegar às escolas, gerando comoção entre crianças e adolescentes. Entretanto, embora tenha havido essa empatia, educadores de muitas escolas têm relatado, neste cenário pós-pandêmico,  atritos entre crianças e adolescentes dentro e fora do ambiente escolar, por conta de palavras que cortam a alma e machucam o coração… Isso nem está ligado somente a racismo, mas também à dificuldade em reconhecer a beleza no outro e muitas vezes em si próprio. 

Para repensar com minhas turmas esses tipos de comportamento, levei para o momento de leitura mediada dos quintos anos o livro Sulwe,da escritora Angolana Lupita Niong’o, da Editora Rocco. 


        Sulwe é uma garotinha da cor da noite, que se esconde pelos cantos, magoada por ter a pele mais escura do que a pele de sua família e também com os adjetivos que recebe por causa disso: negrinha, escura, feia.
         Pior: A menina se sente feia, pensa que por isso não tem amigos e, para tentar clarear a cor de suja pele, lança mão de estratégias que levaram meus alunos às lágrimas. No final, depois de uma linda jornada de autoconhecimento, Sulwe consegue ver-se linda, por dentro e por fora.



Atividade Socioemocional

            Após  a leitura,  fiz algumas questões objetivas de interpretação para ver se minhas crianças  tinham compreendido a base do texto, conduzindo-os depois para questões mais subjetivas, perguntando, por exemplo, se já sentiram vontade de se esconder e em quais situações. A troca foi bastante intensa: Relataram a vontade de se esconder quando estão num lugar estranho, com pessoas que não são de sua convivência e por quem não se sentem acolhidos;  quando são deixados de lado numa brincadeira; quando são trocados, em casa, pelo celular ou por ligações de  trabalho; quando não são bem tratados pela sua cor ou pelas roupas que estão usando.

Como eu esperava, relataram  a vontade de esconder-se, sobretudo diante de brincadeiras sem graça e de palavras usadas para ferir.

Propus então uma dinâmica: que de maneira anônima colocassem em pedaços de papel as palavras ou frases que já haviam lhes magoado, ou palavras e frases que propositadamente tivessem usado para magoar alguém. 

Mostrei-lhes um envelope com o título "PALAVRAS PARA ENTERRAR", e os pedaços de papel foram colocados nele. O teor do que trouxeram foi pesado… Mas foi bastante importante para que pudessem se dispor  a deixar de carregar aquele fardo e, mais importante ainda, para reconhecer o ferimento que as palavras proferidas podem causar no outro. Lacramos o envelope e selamos um pacto:  não usar mais aquelas palavras ou expressões. Enterramos o envelope.

Observei rostinhos aliviados e sorridentes após a dinâmica, mas ainda não havia terminado o trabalho. 

No livro, Sulwe descobriu, em meio à sua  escuridão, quanto “brilho” ela tinha, e que, assim como as estrelas têm oportunidade de brilhar à noite, ela também poderia brilhar. E isso é ser bonito de verdade. 

Pós Atividade com uso de Tecnologia - Resultado

Uma turma bonita de verdade

No dia seguinte, retomando esta parte do livro, perguntei às crianças que palavras ou que adjetivos poderiam definir alguém que é “bonito de verdade”. Anotamos uma longa lista de palavras na lousa. Em seguida, apresentei a eles um Google Forms, com o nome de cada criança, formando uma pergunta de resposta curta.

Cada aluno respondeu, colocando ali as palavras que faziam seus amigos bonitos de verdade. Colocaram também as palavras para si próprios. 

Terminada a atividade, abri a planilha de respostas do Formulário, copiei as palavras e joguei no GERADOR DE NUVENS DE PALAVRAS, uma extensão do Google Chrome,  para cada aluno a nuvem de palavras que os define PESSOAS BONITAS DE VERDADE, coloquei a foto de cada um   e fixei no painel da sala de aula. 



O brilho dos olhos das crianças quando chegaram à sala foi algo surreal. Saber que seu brilho é reconhecido pelos colegas de classe fez toda a diferença para cada um deles. Encerrando a atividade, fizemos mais um combinado: a partir de agora, substituiremos todas as palavras que enterramos pelas palavras das nuvens de nossa classe. Dessa forma, estaremos mudando para melhor o dia a dia das pessoas e o mundo em que vivemos!       

                                                     

* A filmagem do painel foi feita após reunião de pais, que fizeram questão de deixar um recadinho carinhoso para os filhos, reforçando ainda mais a beleza  IMPORTANTE de cada um. 


Comentários

  1. Giovana, que fantástica essa atividade! Encantada com a sua sensibilidade em abordar a situação problema dando voz aos alunos. Parabéns! 😍

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  2. Eu gosto muito deste tema também!!! Parabéns Gi, adorei a sua matéria!!!!

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  3. Trabalho maravilhoso! Quanta sensibilidade! Parabéns 👏👏👏

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