Multiletramentos? Que bicho é esse?

Provavelmente, nos últimos anos, você já deve ter ouvido falar de multiletramentos. O termo permeia a nossa Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e, embora tenha se originado nos estudos da linguagem, aí vai um spoiler importante: não é (e não deve ser) trabalhado exclusivamente por professores da área. "Mas, o que eu ou minha aula temos a ver com isso", você deve estar se perguntando. Fica aqui que eu te explico.

Pedagogia dos Multiletramentos

No ano de 1996, após uma intensa rodada de discussões sobre o impacto das transformações digitais nas práticas pedagógicas e na forma como utilizamos a linguagem, o Grupo de Nova Londres (formado por dez pesquisadores de linguística aplicada) publica um manifesto intitulado Uma pedagogia dos multiletramentos: projetando futuros sociais

A proposta é expandir a compreensão de letramento para uma visão mais abrangente, e que considere as novas formas de interação que surgem com a internet, possibilitando a inserção crítica e criativa na realidade.

Multi... o quê?

Os multiletramentos abrangem multiplicidades de, principalmente, três elementos: mídias, linguagens e culturas. 

  • Multimídia:  hoje, temos à nossa disposição uma série de suportes e canais pelos quais podemos produzir e consumir informações. Livros, revistas, smartphones, Chromebooks, tablets... todos esses recursos são mídias que determinam o formato pelo qual será veiculada a informação.
  • Multimodalidade: antes de mais nada, é importante entender que todo tipo de conteúdo é multimodal! Multimodalidade é a multiplicidade de linguagens que mobilizamos ao produzir e consumir uma informação: texto, imagem, cores, gráficos, números, áudio, vídeo... tudo o que afeta os nossos sentidos e é capaz de produzir sensações e transmitir mensagens é linguagem!
  • Multiculturalidade: cada indivíduo no ambiente escolar é um universo inteiro. Entender isso já é o primeiro passo para entender a multiculturalidade. Ela se refere à diversidade de perspectivas, que abrange as diferenças culturais, religiosas, sociais, de gênero e de escolaridade. Abarca também os diferentes saberes, desde o científico ao popular, e valoriza o conhecimento prévio dos estudantes na construção do conhecimento.
Como ensinar é mais importante do que o que ensinar

Além dos três eixos que sustentam os multiletramentos, uma característica dessa perspectiva é a centralidade no processo, e não no conteúdo, propriamente dito. Assim, como ensinamos é mais importante do que o que ensinamos. 

Na pedagogia dos multiletramentos, os estudantes se tornam designers do futuro, o que significa que têm papel ativo no processo de ensino-aprendizagem, de ponta a ponta. O aprendiz parte do que já está disponível em sua realidade para, a partir da compreensão crítica - mediada pelo professor - reelaborar esta realidade. 
A imagem apresenta o desenho de uma lâmpada e, em volta dela, símbolos que representam como ensinar, multimídia, multimodalide e multiculturalidade.
Princípios da Pedagogia dos Multiletramentos, segundo o Grupo de Nova Londres, 1996.


Multiletramentos e a BNCC

Além de aparecer de forma direta em várias ocorrências na BNCC de língua inglesa e língua portuguesa, os conceitos dos multiletramentos permeiam todo o texto do documento e, principalmente, as dez competências gerais da educação básica. Por isso, não pode e não deve ser pensado apenas por professores de linguagens, mas por todo educador que, como você, acredita em uma educação crítica, colaborativa e criativa, que tem no estudante o centro do processo. 

Ps.: Spoiler parte 2 - se você quer entender melhor como trazer os multiletramentos pra sua aula usando as ferramentas do Google, fique de olho nas nossas próximas publicações!

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