Três perguntas e três provocações sobre tecnologias educacionais

Antes de começar este texto, quero fazer um convite a você, educador e educadora, para repensar a sua relação com as tecnologias educacionais ao longo dos últimos anos. Para isso, aí vão algumas perguntas:
  • Alguma vez você já se sentiu sufocado pela quantidade (e pela velocidade) de inovações tecnológicas para a educação? 
  • Você já ouviu o discurso de que a tecnologia vai magicamente transformar sua vida, sua sala de aula, seus alunos, seu salário, ou algo que o valha? 
  • Alguém já te disse para parar de "inventar moda" e focar "no que realmente importa" quando você sugeriu uma nova ferramenta digital? 
Imagem de Freepik


Se você, assim como eu, está em sala de aula e tem se preocupado em saber mais sobre tecnologias educacionais nos últimos anos, muito provavelmente disse "sim" a todas essas perguntas. Eu sei... parece desesperador. E não, você nao está só. O texto de hoje é uma provocação para que nós, professores e professoras, olhemos as ferramentas digitais com um olhar crítico, humanista e responsável, como só nós podemos fazer.

Tudo novo... de novo...

Na sociedade em que vivemos, permeada pelo digital e pela conectividade, uma das poucas certezas que temos é que, parafraseando Lulu Santos, "tudo muda o tempo todo no mundo". E, embora essa certeza muitas vezes nos traga a sensação de que estamos perdidos ou sufocados, não há motivo para pânico.

Sim. Tudo muda o tempo todo. Saber disso é assumir a premissa de que, enquanto quisermos ensinar, precisaremos aprender. Aceitar esse axioma nos dá a tranquilidade de que não sabemos tudo e não precisamos saber, mas precisamos estar dispostos a aprender - inclusive, com nossos próprios estudantes.

E, para isso, temos a nossa maravilhosa comunidade de educadores Google, os GEG, com seus canais de comunicação digital, YouTube, este blog, e muitos materiais compartilhados; além do Teacher Training Center, o ambiente de treinamentos do Google for Education. Então, respire fundo e se jogue!

Tecnologia ou varinha de condão?

"Era uma vez um professor que aprendeu a usar a tecnologia digital em sua sala de aula. Então ele passou a ser valorizado, seus alunos nunca mais se comportaram mal e ele foi feliz para sempre". Seria lindo se a história fosse assim, não é? Mas você sabe muito bem que não é (e, se não sabe, está prestes a descobrir).

Nenhuma tecnologia, por si só, tem o poder de salvar o mundo ou transformar em um passe de mágica todo um sistema educacional e cultural. Mas, aliada a uma formação pedagógica consistente, a uma abordagem colaborativa e centrada no estudante, vamos fazendo a diferença, um aluno por vez.

Muitas vezes, a abordagem que utilizamos faz muito mais diferença do que a ferramenta digital escolhida. De nada adianta adotar os mais modernos recursos se seus estudantes não estiverem preparados para utilizá-los, ou se sua escola não tiver as condições necessárias para tal. Então, comece conhecendo sua turma e seu ambiente, proponha atividades que façam sentido e que se alinhe às necessidades e às habilidades dos estudantes e, aos poucos, complexifique.

"Lá vem o chato da tecnologia"

A queixa mais comum entre meus colegas líderes GEG (e demais entusiastas de tecnologias educacionais) é a quase repulsa com que são muitas vezes tratados por outros colegas, mais resistentes à mudança. Eu sei que, muitas vezes, isso faz com que o desânimo nos acometa e pensemos em desistir. Ou, ainda, responsabilizamos nossos colegas, rotulando-os de "jurássicos" ou "caretas". Mas, calma... não é tão simples assim.

Seria inútil tentar enumerar aqui os motivos que levam um professor a resistir às mudanças trazidas pelas tecnologias educacionais. Sucessões de decepções com promessas de melhoria por gestores, sobrecarga de trabalho, frustração com a profissão, resistência a aprender algo novo e falta de disposição são apenas a ponta do iceberg, que muitas vezes esconde razões muito mais complexas que, sozinhos, não conseguimos mudar.

A verdade é que, não raro, essa resistência é reflexo do medo do novo. Assim como nossos estudantes, nossos colegas também são movidos pelo exemplo. E também eles precisam começar de um lugar confortável, para evoluir pouco a pouco. Somos todos aprendizes. Cabe a nós acolher esses colegas e, paulatinamente, mostrar a eles que, com apoio e paciência, eles também são capazes de aprender e inovar.

Ninguém sobe sozinho

Durante o simpósio do Gooogle Champions, em outubro, falamos muito sobre a importância da comunidade nos processos de escalada, ou seja, no enfrentamento dos desafios. De nada adianta chegarmos ao topo e assumirmos um lugar de gurus da tecnologia se, abaixo de nós, estiver toda uma comunidade perdida e sem saber por onde começar. Retomando os três pontos que abordei até aqui, encerro este texto fazendo três convites:
  • Pare, respire e vá devagar. Respeite seu próprio tempo de aprendizagem, mas nunca deixe de aprender.
  • As tecnologias educacionais podem te ajudar MUITO, mas, sem o humano, elas não são nada. 
  • "Sozinhos, caminhamos mais rápido, mas, juntos, caminhamos mais longe". 

Feliz ano novo!

Comentários

  1. Erika Vejalão Damacena11 de janeiro de 2024 às 19:59

    Excelente reflexão! Quantas vezes já me sufoquei com as tecnologias. E olha que sou uma pessoa tecnologia, especialmente se isso traz benefícios pro processo pedagógico. Mas penso que essa tecnologia deve ser utilizada com o processo humanizado junto, promovendo uma aprendizagem integral. Seres humanos, relações, vínculos e tecnologia, alinhado à um bom planejamento promove uma aprendizagem enriquecedora.

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  2. Parabéns pelo texto Mariana, adorei e concordo com você!, ele representa a pura verdade de quem conhece bem o chão de sala de aula e que já passou por muitas experiências usando as tecnologias na educação. Precisamos tomar cuidado para não cair nesse círculo vício e achar que as tecnologias por si só vão solucionar todos os problemas.
    Aprender? precisamos sim, sempre, mais cada um no seu tempo e ritmo, no seu momento e"contexto de vida". Não devemos nós comparar e nem jugar as outras pessoas. Pois, cada pessoa é única e possui experiências diferentes da sua e talvez esteja passando por momentos diferentes do seu.
    As tecnologias são importantes e facilitam o nosso trabalho, mas primeiro vem o aspecto humano de acolher, conhecer, ajudar e amar os alunos e as turmas.
    Eu concordo com você, quando você diz que: "Sozinhos, caminhamos mais rápido, mas, juntos, caminhamos mais longe".
    Temos um propósito que é melhorar a qualidade da educação do nosso País, e se trabalhamos primeiro o aspecto humano com os alunos, utilizando as tecnologias como ferramentas através de um bom planejamento usando uma metodologia adequada e com o apoio de outros professores e das comunidades como o da: educadores Google, podemos chegar lá.

    Professor Rodrigo
    Gaspar - SC

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