Taxonomia de Bloom e IA: Novos Desafios (e Oportunidades) em 2025




Há um ano, escrevi aqui sobre como a IA se saía em cada nível da Taxonomia de Bloom (leia aqui o post anterior se quiser!). Mas agora, nem um ano depois, muitas coisas já mudaram, como por exemplo:
  • A IA agora analisa vídeos e voz (ex.: Google NotebookLM lê seus PDFs e "discute" o conteúdo);
  • As IAs generativas são multimodais em sua maioria;
  • Descobrimos que até a criatividade da IA tem limites – e isso é ótimo para nós humanos.
Vamos então atualizar então essa discussão?

O Que Mudou na Relação IA x Bloom?

Vamos começar recapitulando os níveis da taxonomia de Bloom e ver o mudou.

1. Lembrar: As ferramentas de IA generativa estão ficando cada vez melhores em citar fontes. Ainda há alucinação, mas a checagem está mais fácil agora…
Dica prática: Peça para os alunos gravarem um áudio ou vídeo explicando o tópico estudado – assim é possível checar a compreensão.

2. Compreender: IA Melhorou... Mas Não Muito
O ChatGPT consegue explicar por que choramos ao cortar cebola com mais nuance, mas ainda repete estereótipos em temas sensíveis (teste: peça para explicar colonização para uma criança).
Dica prática: Podemos usar respostas da IA como "pontapé para debates". Pergunte aos seus alunos: "O que faltou nessa explicação?"

3. Aplicar: Agora Temos "IA Tutor"
O Khanmigo (Khan Academy), por exemplo, corrige exercícios de matemática passo a passo e está sendo adotado em diversas escolas Brasil afora. Mas… ele não percebe se o aluno entendeu ou só copiou o método e ele também alucina e erra.
Dica prática: Delegue correções automáticas, mas reserve aulas para problemas abertos

4. Analisar: O Boom dos "Assistentes de Pesquisa"
Um estudo de 2024 mostrou que 72% dos universitários usam IA para comparar artigos científicos.
Dica prática: Precisamos ensinar checagem de fatos e checagem viés. Peça para a turma usar para analisar duas fontes sobre mudança climática e identificar interesses por trás dos dados.

5. Avaliar: Onde a IA Tropeça (e Como Você Pode Brilhar)
A IA até tenta julgar qualidade ou tomar decisões, mas falha em três pontos:
  • Falta de contexto humano: Ela não sente o impacto de uma nota baixa em um aluno esforçado.
  • Viés oculto: Repete padrões dos dados que consumiu (ex.: se treinada com redações formais, pode subestimar gírias ou narrativas pessoais).
  • Ética robótica: Não pondera dilemas reais (ex.: "Devo priorizar a pontualidade ou a saúde mental do meu aluno?").
Dica prática: Use a IA para o "feijão com arroz": Peça para ela listar critérios objetivos de avaliação (ex.: "Quais elementos toda resenha crítica deve ter?"). Mas a decisão final cabe a você:
  • Adicione critérios subjetivos e locais: "Como esse trabalho reflete a realidade da nossa escola?"
  • Inclua autoavaliação: Peça aos alunos para justificarem suas escolhas
6. Criar: A Grande Surpresa
Hoje temos plataformas como Suno AI gerando músicas e o próprio ChatGPT gerando imagens, o que assustou alguns artistas e iniciou uma grande debate sobre direitos autorais. Percebemos que muitas das imagens criadas - inclusive na grande polêmica da trend studio ghibli - se apoderam de estilos de outros artistas - que não necessariamente deram seu aval para ter suas obras recriadas por IA…
Dica prática: Usar a IA para Estimular — Não Substituir — a Criatividade Humana. Exercitar a metacognição: "O que EU acrescentei que a IA não poderia?"
Alguns exemplos:
  • Artes: IA gera uma imagem abstrata → alunos inserem símbolos pessoais.
  • Ciências: IA propõe uma solução para poluição → alunos ajustam com dados da sua cidade.

3 Perguntas para Você Refletir

  • Avaliação: Como adaptar suas provas para que a IA seja uma ferramenta, não uma resposta?
  • Autonomia: Você já treinou alunos para questionar respostas da IA?
  • Criatividade: Que atividade só funciona se for 100% humana na sua disciplina?
Precisamos realmente repensar como avaliamos os aprendizados. Algumas considerações importantes:

Foque em bases sólidas (ler, compreender, aplicar).
Limite o acesso à IA para não atropelar (ou atrofiar) o pensamento crítico.
Priorize tarefas de avaliação e criação. Exemplo: em vez de "liste as causas da Revolução Francesa”, peça "julgue como a IA descreveria Hitler e corrija os erros de contexto".
Use a IA como Parceira Cognitiva. Ela pode te ajudar a criticar seus projetos ("o que está faltando nesta aula sobre IA?") ou simular debates ("como um aluno de 15 anos reagiria a este conteúdo?"), por exemplo.

Analisar a Taxonomia de Bloom nos dá o recado: automatize o mecânico, humanize o essencial. Que tal começar hoje? O futuro que queremos para a educação precisa começar hoje, senão nunca chegaremos lá. Como está usando a IA para potencializar suas habilidades humanas? Conta aqui nos comentários!


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