Unesco lança matriz de competências para professores em IA

No início deste mês, a Unesco publicou dois documentos importantes para orientar as práticas em inteligência artificial na educação, voltados, respectivamente, para estudantes e professores. Neste post, vamos discutir alguns dos pilares do AI Competency Framework for Teachers, que é direcionado para educadores, e traz algumas reflexões importantes sobre o uso da inteligência artificial em contexto escolar, a responsabilidade de cada um dos atores do processo educacional, e apresenta uma matriz de competência para avaliar e orientar o desenvolvimento profissional de educadores em IA.


Logo após a publicação desse material, observei, nas redes sociais, um grande volume de postagens focadas na matriz de competências proposta pelo documento. E, embora o mote da publicação seja este, gostaria de, neste texto, focar nas problematizações e implicações éticas e sociais abordadas por este documento.


Uma abordagem ética e humanista


Muito mais do que uma convocação aos professores para se atualizarem em relação às ferramentas de IA que surgem a todo instante, o guia publicado pela Unesco nos convoca a uma abordagem humanista e ética da inteligência artificial. Isso, é claro, não pode ocorrer sem que os educadores tomem posse dessas ferramentas e compreendam os princípios que as regem para, munidos desse conhecimento, possam não somente utilizar esses recursos, mas questioná-los.


O documento da Unesco não ignora os riscos à agência humana, a ameaça à igualdade e a ampliação da exclusão que, muitas vezes, são consequência do uso inconsequente e mal informado da IA. Pelo contrário, a organização chama atenção para a banalização da educação, que muitas vezes parece reduzida a tarefas automáticas e facilmente reprodutíveis por máquinas. Além disso, ressalta a necessidade de envolver gestores e outros tomadores de decisão no processo, no sentido de garantir os direitos dos professores, proporcionar formação de qualidade, ambientes adequados e condições justas de estudo e trabalho.


A abordagem humanista e inclusiva que é defendida pela Unesco destaca o fato de que as ferramentas de IA são criadas e operadas por indivíduos, que podem (e devem) ser implicados ética e legalmente quando esses recursos causam danos a outros indivíduos, ameaçam direitos humanos, ou provocam o silenciamento de culturas e línguas. Por isso, o documento sustenta a importância de que os educadores saibam (e saibam ensinar) a identificar vieses, avaliar criticamente essas ferramentas, questionando-as sempre que necessário.


Aprendizado ao longo da vida e suporte institucional


Além das implicações éticas e humanistas que o documento evoca, o desenvolvimento profissional contínuo de educadores é um fator sem o qual o uso da IA (e, convenhamos, de qualquer tecnologia) na educação não pode acontecer.


O documento sustenta a necessidade de que os professores sejam capazes de progredir continuamente em sua jornada de aprendizagem, a partir de reflexão contínua de suas práticas (e de seus colegas), e convoca os órgãos públicos e gestores à oferta de suporte e formação profissional contínua antes, durante e depois da contratação de professores, ao longo de sua carreira e por meio da colaboração. A Unesco defende também a oferta de condições para essa formação, como tempo disponível, reconhecimento e adaptações curriculares e nos sistemas de avaliação, para que sejam condizentes com as novas formas de ensinar e aprender.


A matriz de competências


Assim, a partir de quatro pilares, e classificada em três níveis diferentes de progressão, esta é a matriz apresentada pela Unesco:



Aspectos

Progressão

Adquirir

Aprofundar

Criar

1. Mentalidade centrada no humano

Agência humana

Responsabilidade humana

Responsabilidade social

2. Ética da IA

Princípios éticos

Uso seguro e responsável

Co-criação de regras éticas

3. Fundamentos e aplicações

Técnicas e aplicações básicas de IA

Habilidades de aplicação

Criação com IA

4. PedagogIA

Ensino assistido por IA

Integração da pedagogIA

Transformação pedagógica melhorada por IA

5. IA para o desenvolvimento profissional

IA permite o aprendizado ao longo da vida

IA para aprimorar o aprendizado organizacional

IA para apoiar a transformação profissional


A partir dessas competências, a Unesco acredita ser possível desenvolver nos professores as competências necessárias para que utilizem a IA de modo ético e humano, cobrindo temas essenciais e interrelacionados. Não se trata de uma categorização estanque, mas de uma sugestão para orientar decisores, instituições e pesquisadores em busca de uma educação que se modernize sem negligenciar aspectos humanos, éticos e sociais.


Quer ler o material completo da Unesco? Clique aqui! E fique de olho em nossos próximos posts para saber mais sobre cada uma dessas cinco competências e níveis de proficiência!


Comentários

  1. Excelente abordagem! Essencial para nossos professores e a educação! Parabéns

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