Pensamento computacional: primeiros passos

Quando falamos em pensamento computacional, certamente a primeira coisa que passa pela cabeça é: se não sou da área de informática, isso não é para mim. Mas já vou adiandar antes mesmo da nossa conversa começar: se você quiser, pode ser sim! E falo por experiência própria: alguém que não é nativa digital, que se formou em Letras e descobriu, nos últimos anos, uma paixão desenfreada por esse tal universo da lógica e aplicação da matemática que até então sempre parecia tão distante, bem como a possibilidade de facilitar a vida e os processos repetitivos.

O meu objetivo ao compartilhar esse tema por aqui, não é discutirmos a teoria em si, ou as linhas de trabalho do pessoal que trabalha com programação e, muito menos, ensinar a programar ou desenvolver sistemas. Mas sim compartilhar as diversas ferramentas e atividades pedagógicas que tenho colocado em prática e que estão dando certo.

Pensamento computacional na educação básica: por onde começar?

O primeiro passo que percebi que seria necessário trabalhar com meus alunos, depois de uma tentativa frustrada ao começar direto com atividades com o famoso EV3 Mindstorm, foi que eles precisavam compreender que várias atividades que realizamos em nosso cotidiano, seguem a mesma lógica que precisamos utilizar ao programar um robô com peças de montar

Um exemplo clássico: o "simples" fato de se deslocarem de um local para o outro precisa de organização, planejamento, etapas específicas, realização. E às vezes, começa tudo de novo em um "loop" infinito. 

A partir desse momento, passei a realizar três etapas (que apresentarei a seguir) antes de começar a programar com os robôs ou simuladores em plataformas virtuais:

  • Robótica Desplugada
  • Pixel Art em planilhas
  • Desenhos com coordenadas

Três atividades simples antes de começar a programar


Robótica Desplugada

Para trabalhar com a prática que chamei de "Robótica desplugada", selecionei algumas imagens no Pinterest que contemplam os pontos que eu queria: comandos que, partir deles, temos desenhos. a prática é simples e divido em 3 etapas:


Pensamento computacional: primeiros passos
Imagem: Pinterest org. Ana Laura Queiroz

1ª etapa: em duplas, cada aluno recebe uma folha quadriculada e um envelope com os comandos que uma pessoa dará e a outra realizará na folha quadriculada. Em seguida, entrego o "gabarito" com o desenho que deveria ter sido formado para que a dupla corrija. 

exemplo de programacao desplugada
Imagem: Pinterest org. Ana Laura Queiroz

2ª etapa: ainda em dupla, consiste em receberem o desenho e identificarem os comandos. Novamente, um analiza o desenho e o outro registra os comandos. Após finalizarem, entrego o "gabarito" para que façam a correção. 

3ª etapa: a tereceira e última etapa desta atividade consiste em cada aluno criar um comando para o professor ou colega que fará o papel de robô realizar.   

exemplo da atividade comandos para um robô desplugado
Imagem: arquivo pessoal Ana Laura Queiroz

Aqui um exemplo de como pode ser apresentado o material para uma turma toda, caso opte por fazer isso ao invés de dividir a turma em duplas: Leve com você: Programação desplugada modelo


Pixel Art em planilhas

Quando comecei a trabalhar com a implementação do pensamento lógico com meus alunos, percebi que se eu ia direto para o robô/programação, eles nem sempre conseguiam entender o famoso "if/else"

"A condicional if é uma estrutura condicional que executa a afirmação, dentro do bloco, se determinada condição for verdadeira. Se for falsa, executa as afirmações dentro de else." (https://developer.mozilla.org/).

Foi aí que eu lembrei das planilhas que tanto gosto e que certa vez tinha compartilhado em uma live do GEG Brasil atividades de criação de desenhos com formatação condicional utilizando Google Planilhas.

Mas como a turma que eu estou trabalhando no momento é do ensino médio, senti que eu poderia abrir um pouco mais esse leque e deixá-los simplesmente seguir uma trilha, e, quem sabe, ir além da esperada formatação de quadradinhos para criar os desenhos em pixel art

exemplo de planilha com pixel art formatacao condicional
Imagem: Arquivo pessoal Ana Laura Queiroz

Foi assim que criei uma turma no Applied Digital Skills - Google e utilizei a lição: "Make Art with Google Sheets" que você pode acessá-la aqui. Basta fazer o seu cadastro GRATUITO na plataforma e se divertir. Ah, e se não souber o idioma, acredite, não é uma barreira tão grande. Basta acompanhar a transcrição do vídeo utilizando o "tradutor de página do Google Chrome". 

imagem do site digital skills google

A propósito, se você nunca nem escutou falar sobre Applied Digital Skills - Google, indico demais que você explore! Tem várias lições prontas, em diferentes idiomas, com transcrição dos vídeos e até com certificado no final!

No vídeo a seguir, dá para ter uma ideia: 


Desenhos com coordenadas

Muito similar à atividade de Robótica Desplugada, nesta aqui o aluno também precisará seguir comandos para criar um desenho/coordenadas. No entanto, agora em um nível mais avançado, pois os alunos precisarão conhecer e aplicar o que aprenderam ao estudar sobre plano cartesiano, identificar os pontos pelas coordenadas e então reproduzir o desenho. E, em outro momento, fazer o processo inverso,  ou as coordenadas.

Para a realização desta atividade, fiz uma parceria com a professora que trabalha a disciplina de "Fabricação Digital e Modelamento Geométrico" e ensina os alunos a utilizarem a impressora 3D e corte a laser. 

Para esta prática, ela fez algo muito similar à minha atividade. Primeiramente explorou e relembrou o conceito de plano cartesiano com os alunos, conectando a necessidade desse conhecimento para as próximas atividades da disciplina que consistiriam em produzir obejtos na impressora 3D e máquina de corte a laser.

Imagem: By Anpaoliello - Own work, CC BY-SA 3.0

Em seguida, entregou ao duplas de alunos um grupo de coordenadas e uma folha quadriculada. A primeira tarefa foi fazer os traços X e Y e enumerálo. Em seguida, demarcaram os pontos das coordenadas e depois uniram as intersecções seguindo a ordem nas coordenadas registradas. Eis que o resultado final era um desenho. 

O processo inverso também foi feito. Cada dupla de aluno, após fazer um desdenho, registrava as coordenadas em um papel e entregava para outra dupla resolver o desafio. 

imagem com exemplo da atividade de coordenadas para plano cartesiano
Imagem: Pinterest

Certamente, neste momento, você está se deparando com pensamentos do tipo: "mas isso é pensamento computacional? tão simples! tem coisa aí que eu já faço há anos..." E eu te respondo, não precisamos estar sempre conectados a um computador ou tela de programação, nem às famosas peças de montar, para ensinarmos e aprendermos as lógicas da programação, para percebermos o pensamento computacional acontecendo. Na verdade, o ideal mesmo que o aluno primeiro se dê conta de que esse universo é para ele, assim como você professor que não é formado na área de computação. Aliás, todo mundo deveria ter a consciência de quantas coisas que fazemos e que a máquina só faz porque um humano em determinado momento ensinou para a primeira máquina como fazer.

Em breve volto com mais ideias, e aí trarei atividades que realizo com ferramentas que facilitam a iniciação dos alunos no universo da programação nas telas, utilizando Python e blocos.

Já compartilhe com alguém que você lembrou que precisa ler sobre esse material e aproveita para deixar um comentário e compartilhar a sua experiência com a gente!

Um abraço,
Profª Ana Laura Queiroz
Líder GEG Joinville/SC e Google Trainer

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